“O primeiro dia de aula é o dia que eu mais gosto em segundo lugar. O que eu mais gosto em primeiro é o último, porque no dia seguinte chegam as férias.
Os dois são os melhores dias na escola porque a gente não tem aula. No primeiro dia não dá para ter aula porque o nosso corpo está na escola, mas a nossa cabeça ainda está nas férias. E no último, também não dá para ter aula porque o nosso corpo está na escola, mas a nossa cabeça já está nas férias.
Era o primeiro dia e era para ser a aula de português, mas não era porque todo mundo estava contando das férias. E como todo mundo queria contar mais do que ouvir, o barulho na classe estava mesmo ensurdecedor. O que explica o fato de ninguém ter escutado a professora gritando para a gente parar de gritar. Todo mundo estava bem surdo mesmo. Mas quando ela bateu com os livros em cima da mesa a nossa surdez passou e todo mundo olhou para ela.
Ela estava em pé, na frente do quadro e ficou em silêncio, com uma cara bem brava, olhando para a gente.
Quando um professor está em silêncio com uma cara bem brava olhando para você, é melhor também ficar em silêncio com uma cara de sem graça olhando para um ponto qualquer que não seja a cara brava do professor.
A professora puxou a cadeira dela e se sentou.
Atrás dela, no quadro-negro, eu vi decretado o fim das nossas férias e o fim do nosso primeiro dia de aula sem aula. Estava escrito:
Redação: Escrever 30 linhas sobre as férias.”
A divertida crítica de Christiane Gribel, em Minhas Férias , Pula uma linha, Parágrafo. (Moderna. 2005), trata da aflição do personagem Guilherme, garoto de 11 anos, que se vê desesperado diante da obrigação de ter de redigir sobre suas férias:
“Aqueles dois meses inteirinhos de despreocupações estavam prestes a virar 30 linhas de preocupações com acentos, vírgulas, parágrafos e ainda por cima com a letra legível depois de tanto tempo sem treino.”
A narração detalhada do sofrimento de Guilherme, da elaboração à correção da redação, traz à tona as dificuldades de produção de textos que os alunos apresentam e a aversão à escrita em que isso se transforma, servindo como um subsídio muito interessante para coordenadores pedagógicos no tocante à reflexão de professores quanto à metodologia em questão.
A trama mostra ainda a correção da redação que a professora faz, despertando a análise da prática tão disseminada de marcar em vermelho o texto do aluno, encerrando aí o processo avaliativo.
“As minhas férias, que tinham sido perfeitas para mim, não chegaram nem perto de terem sido boas para a professora. Elas voltaram cheias de defeitos. Faltou um esse no passe de craque do Paulinho, um acento na minha tática e a minha comemoração eu escrevi com tanta empolgação que acabou saindo com dois esses em vez de cê-cedilha.
E o pior do que eu imaginava foi o que ela fez com o meu golaço que estilhaçou em mil pedaços a janela do vizinho. Ela disse que “em mil pedaços” é um adjunto adverbial e que tinha que ficar entre vírgulas.
Eu olhei na Gramática e lá estava explicado que um adjunto adverbial é um termo acessório e a gente pode eliminar aquela parte da frase que ela continua a fazer sentido. Eu queria ver a professora dizendo para o meu vizinho que aqueles mil pedacinhos da janela dele eram só um adjunto adverbial.
E tem mais uma coisa: eu estava de férias. Era muito mais importante marcar o gol do que as vírgulas, concorda?
A professora não fez nenhum comentário sobre o que eu tinha escrito. Para ela tanto fazia se o meu gol tinha sido um golaço ou um frango do goleiro. Eu fiquei bem chateado. Ela tinha acabado com as minhas férias. Isso significava que era a terceira vez que minhas férias acabavam numa semana só. Não podia existir nada pior que isso na vida de um garoto de 11 anos.”
E quem de nós não é capaz de se identificar com a mensagem do texto?
Boa volta às aulas!
Angeli,
ResponderExcluirTd bem? Sou membro do grupo Professores, Educadores e Formadores do Linkedin e passei por aqui para te parabenizar pelo lançamento do blog. Quando puder, visite também meu blog no endereço www.ogestor.eti.br
Felicidades!
Olá, Angeli,
ResponderExcluirTambém gostei de sua iniciativa. Educação é um tema que precisa ser (re)pensado constante. Gostaria que visitasse o meu blog: http://renatocsar.blogspot.com
Um forte abraço e muito sucesso.